A falta de apoio é uma questão que atinge as mulheres que abrem suas próprias empresas ou as que já estão empreendendo há algum tempo no mercado. Elas têm menos suporte quando precisam dele em comparação aos empresários do gênero masculino.
Essa deficiência foi identificada por uma pesquisa do Sebrae: “Empreendedorismo Feminino”. E, segundo o levantamento, as proprietárias dos empreendimentos dedicam menos horas ao trabalho. Porque utilizam praticamente o dobro de tempo do que os homens nos cuidados com a família e afazeres domésticos.
Os dados revelam que o apoio que os homens recebem do cônjuge, pais, amigos e fornecedores é maior em relação ao recebido pelas empreendedoras. E no segmento das empresas ativas, a diferença é ainda mais significativa. O apoio de fornecedores às mulheres é 9 pontos percentuais inferior ao dos proprietários de firmas.
Quando a pergunta foi sobre quais as pessoas dão apoio atualmente para as atividades de empreendedoras e empreendedores, o maior número apontado entre os homens é de clientes e fornecedores (43%). E avaliando as mulheres fica em 34%.
Para os empresários do gênero masculino, o apoio recebido do cônjuge é mais frequente do que entre as mulheres: 68% deles afirmaram terem sido ajudados contra 61% delas.
E entre os amigos (57%), pais (52%), clientes e fornecedores (68%), os empresários levam vantagem sobre as mulheres (54%, 49% e 67%, respectivamente).
Suporte para mulheres é maior por parte de outros parentes
Mas considerando o suporte dirigido às mulheres, esse é maior por parte de outros parentes. Porque, nesse caso, aqueles que não são os cônjuges ou pais colaboram com 45% a 35%. Os grupos de amigos no WhatsApp vão de 34% a 32% e dos filhos, de 29% a 26%.
Outro destaque da pesquisa é o apoio de maior consistência recebido pelos homens por parte das prefeituras das cidades onde a empresa atua: 12%. Quando se considera as parcerias com as mulheres, o índice dedicado pelas gestões municipais é de 8%.
“Esses dados mostram que a cultura machista ainda privilegia os homens na atividade empreendedora, assim como em outros segmentos da economia e da sociedade”, comenta a diretora de Administração e Finanças do Sebrae Nacional, Margarete Coelho.
Conforme ela, as informações comprovam a importância de serem desenvolvidas políticas públicas, que permitam ao empreendedorismo feminino as mesmas condições para competir em suas áreas. “Quando uma mulher é dona do seu dinheiro, ela é dona também da sua vida, das suas escolhas. Isso impacta diferentes aspectos da economia e da vida da população, inclusive na redução da violência doméstica”, frisa Margarete.
Jornadas estendidas de trabalho é obstáculo à trajetória
A pesquisa traz ainda a quantidade de horas a mais de trabalho das mulheres, às demandas da casa e da família. As empreendedoras dedicam 3,1 horas na atenção aos familiares e 2,9 horas na lida doméstica. Já os homens gastam 1,6h e 1,5h, respectivamente, com essas atividades. “Essa dupla jornada das mulheres funciona como um obstáculo que torna ainda mais complexa a trajetória das empreendedoras à frente de uma empresa”, avalia a diretora.
Cuidado com família foi fator de decisão para o negócio
Por outro lado, esse mesmo cuidado com a família foi fator de influência direta para as mulheres na decisão de abrir o seu negócio. Entre as empreendedoras, 68% disseram que ter que cuidar dos filhos “influenciou muito”. Entre os homens, o registro chegou a 56%. Quanto à sobrecarga com a jornada dupla, 76% das mulheres se sentem mais sobrecarregadas e 61% já tiveram que deixar de fazer algo para si ou para a empresa em vista do cuidado dos filhos, de idosos ou parentes.
Na outra ponta, esses números foram de 55% para os homens que se sentiram sobrecarregados. E 48% se destinam aos que afirmaram ter de sacrificar algo em favor da família. “Se todos na casa se beneficiam com os filhos bem cuidados, com o jantar quentinho, com a casa limpa, será que é justo que este peso recaia somente sobre as costas das mulheres, de maneira a sobrecarregá-las?”, questiona Margarete.