Varejistas de todo o país estiveram esta semana no Planalto para uma conversa sobre as demandas do setor. Eles foram recebidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo vice e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. O grupo debateu no encontro questões como os juros altos, a concessão de crédito e a lealdade concorrencial no segmento.
Alckmin afirmou que “não há razão” para o atual patamar da taxa básica de juros, a Selic. Hoje ela está em 13,75% ao ano. De acordo com o ministro, “os juros futuros estão em queda, enquanto os juros reais continuam subindo”. E esse cenário prejudica muito as atividades econômicas no país.
A Selic é a principal ferramenta usada pelo Banco Central para atingir a meta de inflação. Porque a taxa provoca reflexos nos preços, considerando que os juros mais altos encarecem o crédito, bloqueando a demanda aquecida. Então, o governo está cobrando uma redução para estimular o crescimento da economia.
E os empresários do varejo também esperam que ocorra uma regressão nas taxas de juros em curto prazo. “Sabemos que o Banco Central tem o rito para que isso ocorra. Notamos que vários programas, que serão bons para o varejo e para o mercado, dependem disso. E não é só a questão da Selic, do Banco Central, mas o juro praticado no cartão de crédito, que é muito elevado, e que é o próprio mercado que determina”, afirmou o presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), Jorge Gonçalves Filho.
Crédito e atividade produtiva no varejo
O dirigente salientou que as vendas no varejo passaram por um retrocesso no primeiro quadrimestre do ano. “Não foi muito forte, mas existiu”, citou. Segundo ele, foram então apresentadas as possibilidades de retomada econômica. Entre elas estão ações para impulsionar o crédito e medidas focando o investimento em outras áreas que refletem no varejo, como a infraestrutura.
“Aquele velho triângulo: renda, emprego e crédito. Então, vamos ajudar na questão do crédito. Pelas medidas que ouvimos, que estão aí para serem anunciadas, deve melhorar a atividade produtiva. Então, acreditamos que o varejo terá um melhor segundo semestre”, apostou o presidente do IDV.
“Se você está movimentando um mercado ali ao lado daquela loja, uma construção, por exemplo, quem tiver lá vai consumir no varejo. Então, às vezes, o impacto é indireto. Podemos ajudar diretamente com crédito, mas também aumentando a atividade econômica o varejo vai ser beneficiado”, complementou.
Ilegalidade fronteiriça no varejo digital
Para Gonçalves Filho, a reunião com o presidente Lula foi altamente produtiva, pois foram tratados assuntos muito importantes para o varejo. “Falamos sobre a questão da ilegalidade no varejo e as iniciativas que o governo já tomou na questão da cross border (comércio transfronteiriço) do varejo digital”, relatou.
Renegociação de dívidas e empregabilidade
Também foram abordadas as grandes possibilidades que existem de impulsionar o varejo através do crédito, da colaboração no Programa Desenrola, que faz renegociação de dívidas. Ainda fez parte das discussões a questão da empregabilidade do varejo e como ele pode multiplicar a questão do primeiro emprego. “Afinal, o varejo é o maior empregador do Brasil”, enfatizou.
Comércio eletrônico, outro lado do varejo
Está sendo trabalhado pelo governo federal um novo formato de cobrança de impostos em remessas internacionais. De acordo com Alckmin, a importação de produtos sem pagar imposto chegou a quase R$ 70 bilhões no ano passado. E esse número representa quase 1% do PIB, que é o somatório dos bens e serviços produzidos no país.
“É dever do governo manter uma concorrência leal”, reforçou o ministro. Segundo ele, a importação sem pagamento de impostos não prejudica só o comércio instalado no território nacional, mas desampara também a indústria brasileira.
Plano de conformidade previsto para julho
De acordo com Gonçalves Filho, o governo e o setor de varejo ainda estão trabalhando na confecção de um plano de conformidade. Esta iniciativa é para que as empresas de outros países, as plataformas digitais e o comércio estrangeiro estabelecidos no Brasil sejam mais participantes e investidores, e paguem impostos. “Então, não queremos nada mais do que ser isonômico em termos de competição”, comentou. O plano que está sendo produzido deve entrar em vigor já em julho.
Participaram da reunião em Brasília os representantes das empresas varejistas Magazine Luiza, Saint-Gobain, Grupo Mateus, Livraria Cultura, Ri Happy, Lojas Renner, Caedu, McDonald’s, Mundo Cabelereiro, Pague Menos, Petz, Quero-Quero, RaiaDrogasil, Óticas Carol, Grupo Boticário, Telhanorte, Grupo Pão de Açúcar, Grupo Soma e Carrefour.
Também estavam presentes ao encontro a presidente da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano, e os diretores do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Teresa Campello e Nelson Barbosa, conforme a Agência Brasil.